quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

MEL e MALAGUETAS



Na noite
que me dispo e te mancho da minha pele
Transfusão de sentimentos, de desejos e vaidades
E corremos no mesmo lugar, para a mesma meta, 
para um sempre iniciar de vida

Durante a noite
misturo mel e malaguetas
Mastigamos bagas venenosas se assim se quer a paixão
E subimos em uníssono na música que se toca nos nossos instrumentos

Vem a madrugada
e os teus abraços não escasseiam
Beijos em meio de sonhos, beijos de boca e de pele
E remexemos o nosso espaço de estreia e de vontades, ocupamos um só lugar

Nasce outro dia,
mais um dia, acrescenta-se mais um acordar
És tu que me seguras, me abanas e me acicatas nesta existência incipiente
E por cada dia mais, por cada pulsação mais, por cada aventura mais, vamos envolvendo nestes dias as nossas vidas!


VIAJO



Furta-me

são os pés dormentes de querer fugir e não saber como

A madrugada acorda e os cortes no peito inquietam os sonhos

[os pesadelos…

Cativa-me

Sentir sem saber como sobreviver à incoerência dessas sensações

O sol quer aquecer, mas há uma cortina de poeira densa entre nós

[dentro de ti

Eleva-me

O peso da dor da incerteza funde o ser com o chão e o mar que enche e deixa vazio

As marés de água doce amargaram, e nem sabem a sal, são apenas líquidos viscosos

[são mortais

...
Renasço

Cometo o acto de me recriar e de deixar ir, para recuperar da fúria da ruptura

Contrario manhãs e rios e confesso-me como uma vela içada que saboreia o vento

[e eu viajo...


E furto-me a pesadelos, cativo o calor interior, elevo o ser sobre o sentir e sobrevivo… sempre!


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

IMO




Improvável

Impróprio

Impasse




Improvável encontro

Impróprio momento

Impasse de avançar




Improvável  precipitação e constrangimento

Impróprio imbuído de excitação

Impasse em calar ou deixar avançar




Importante


IMO


Liberto-te [?]



Inspiro convictamente e no ar, que por momentos guardo só para mim num fôlego preso, liberto alguma da tensão contida sob a minha pele


Arrepio-me e sustenho o ritmo do meu coração, porque quero ouvi-lo, quero dar-lhe um espaço sem sufoco para que se expresse


Encerro a captação de imagens, para que só as que pululam os pensamentos possam ser referência desta pausa, deste interregno de ser, do ser


E vejo-te… e revejo-me… e há mais… há linhas e fios que se enrolam em nós, entre nós, que nos prendem e nos separam…


Quero superar-me e deslizar entre esse emaranhado de nós, por nós…   e quero sentir-te na pele, a agarrar-me… num laço…mas...


Expiro, livre, liberto-te… 


Não há mais fios, nem nós, nem emaranhados… apenas o querer, tão somente o que se quiser

[desejos sonhados

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

ESTE CHÃO QUE SINTO...


Como em queda livre, um dia percebemos que nos falta o chão que queríamos que estivesse ali… e na verdade, mesmo já depois de uma vida de treino como os mais audazes trapezistas, ainda é sempre como a primeira vez que nos tiram a rede

Como num voo picado, um dia deixamos de ouvir um dos motores que avariou sem aviso… e mesmo como sobreviventes experientes em usar pára-quedas, nós sentimos o coração arritmar, o sangue fugir das veias e a alma longe de nós

É como plantar uma flor nocturna, que se fecha, que não a sentimos, não nos olha, apenas está ali, por ali... E apesar de tanto tempo a sós, de aprender a ter um canteiro vazio, abre-se no peito uma cratera estéril, um espaço por preencher...


Mas...
se hoje, ainda é chão que toco, e o fogo quer ficar,
se não termina o desejo de rodopiar, saltar e dançar,
ou de desenhar neste céu linhas brilhantes,
Nem morre a vontade de ter um campo florido
por instantes, momentos, dias, até...
Se procura ainda absorver este perfume vivo de cores garridas,
Então...
o coração pulsa, a alma regressa e estes olhos pintam de sonhos a paisagem…